sexta-feira, 10 de junho de 2016

Hoje, ela não pode mais perdoar.

Eles se conheceram por acaso. Uns diriam que é coisa do destino, outros que deram sorte, mas para eles ia muito além.
Ela era jovem, inexperiente e possuía a gentileza no olhar.
Ele, mais velho, esbanjava simpatia e educação.
Eles eram amigos, companheiros, confidentes.
Eles eram namorados, apaixonados, inconsequentes.
Ela queria fazê-lo feliz. Queria que ele a desejasse, a amasse. Queria ser única.
Ele queria domá-la. Tê-la apenas para si.
Ela achava bonitinho o ciúme que ele sentia. Gostava quando ele reclamava das roupas e quando dizia como ela deveria se comportar. Achava que ele a estava ensinando como ser a namorada perfeita. Gostava de fazer com que ele se sentisse seguro. Queria que ele soubesse que ela era somente dele.
Ele ficava cada vez mais obcecado. Queria saber onde ela estava e com quem. Queria acompanhá-la em todos os locais.
Ela permitia. Permitia o ciúme e a falta de privacidade. "Não há nada a esconder", ela dizia.
As brigas passaram a ser constantes. As vezes ele a ofendia, mas ela o desculpava, afinal, ela que o provocava, se não tivesse usado aquela roupa, nada disso teria acontecido. Se não tivesse curtido aquele comentário, se não tivesse postado aquela foto...
Mas ele a amava.
Mas ela o amava.
Eles decidiram que era hora de avançar. Morar juntos, talvez casar. Dentro da mesma casa, é óbvio que as brigas iriam acabar.
Eles estavam felizes, até que as coisas começaram a ir mal no trabalho dele, enquanto iam cada vez melhores no trabalho dela.
Ele passou a beber, e a culpa era dela.
Eles já não se falavam direito e quando falavam, brigavam, e a culpa era dela.
Ela chorava todas as noites, mas a culpa era dela.
Um dia ele chegou embriagado e no meio de uma discussão, a empurrou. Ela o desculpou, ele não sabia o que estava fazendo.
No outro dia, ele apertou tanto seus braços, que ficaram roxos. Só que ela o desculpou, ele estava bêbado, não tinha consciência do que fazia.
No dia seguinte, ele lhe deu um tapa e a dor foi muito forte, não a dor física, mas a dor emocional. E mais uma vez ela o perdoou, mesmo sem ele pedir perdão. Ela entendia que ele estava passando por uma fase difícil. Se sentia inferior por ganhar menos, e, droga, por que ela tinha que ganhar mais? Por que ela respondia quando ele gritava? Por que a comida não estava pronta quando ele queria? Por que ela continuava postando fotos em redes sociais? Por que ela continuava sendo tão bonita?
Mas, espera!
Ela continuava a se sentir culpada, no entanto, não se sentia culpada por ganhar mais, por postar fotos ou coisas assim. Ela se sentia culpada por permitir que ele a controlasse, que ele a empurrasse, que ele a machucasse... Se sentia culpada por amá-lo mais que a si mesma e por dedicar sua vida somente para fazê-lo feliz. Aquilo precisava acabar. Ela não podia continuar apanhando, se escondendo do mundo por causa das marcas que ele deixava no corpo dela.
Aquilo iria acabar.
Ele chegou em casa após mais um dia de trabalho, não estava bêbado, mas estava com raiva. Havia perdido o emprego e ela, ao invés de ficar quieta e calada, resolveu ficar perguntando por que aquilo havia acontecido. Ele acabou lhe dando um tapa. Estava cego de raiva, então deu outro e mais outro. A puxou pelo cabelo, e a jogou no chão. Ela bateu com a cabeça na cama e caiu.
Os olhos dela, aqueles olhos azuis que ele tanto admirava, ficaram encarando-o, incrédulos.
Ela ainda o amava, mas aquilo foi o fim.
...
Ele vai visitá-la todos os dias.
Está arrependido.
Leva flores, ela amava flores.
Pede perdão.
Chora.
Ela não pode mais vê-lo.
Não pode mais sentir o perfume das flores.
Não pode mais perdoar.
Ele tirou-lhe a liberdade.
Ele Tirou-lhe a vida.
...
Ele está em liberdade condicional.
Todos os dias vai ao cemitério e chora diante do túmulo dela.
Ele pede que ela volte, mas ela já não pode ouvir.
Hoje, ela não pode mais perdoar.






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