sexta-feira, 1 de julho de 2016

{Resenha}: Uma escolha imperfeita - Louise Doughty

"Relacionamentos têm a ver com histórias, não com a verdade. Sozinho, como indivíduos, cada um de nós tem suas próprias mitologias pessoais, as histórias que contamos, a fim de dar sentido a nós mesmos para nós mesmos. Isso geralmente funciona muito bem, desde que fiquemos lúcidos e solteiros, mas no minuto em que você entra numa relação íntima com outra pessoa, há um descompasso automático entre sua história a respeito de si e a história deles a seu respeito" (DOUGHTY. 2014. p. 425).

Título: Uma escolha imperfeita
Autora: Louise Doughty
Editora: Rocco
Páginas: 446

SINOPSE:
Yvonne Carmichael trabalhou duro para conquistar a vida que sempre quis: uma carreira bem-sucedida em genética, uma bela casa, um bom relacionamento com o marido e seus dois filhos adultos. Um dia, porém, ela conhece um estranho na Casa do Parlamento e, num impulso, começa um ardente caso com ele. No início, acha que conseguirá manter a relação separada do resto de sua vida, mas ela não pode controlar o que acontece em seguida. Todos os seus planos cuidadosos se transformam numa escalada de enganos, culminando, por fim, em um inominável ato de violência. Uma escolha imperfeita é tanto um thriller psicológico quanto um exame revelador dos valores pelos quais todos nós vivemos e das escolhas que fazemos. 

OPINIÃO:

Olá, Leitores!

Esse é um daqueles livros que não me chamou a atenção logo de cara. Não li nenhum comentário antes, pois fazer isso acaba me frustrando, já que sou do tipo que cria inúmeras expectativas e fico altamente abalada quando elas não são supridas.

Essa é uma daquelas histórias que começa pelo final, o que considero um fato positivo, já que faz com que fiquemos, no mínimo, curiosos para descobrir como as coisas chegaram nesse patamar. A narrativa é feita pela personagem principal, Yvonne Carmichael, e se inicia em um julgamento, onde logo percebemos que ela e o amante estão no banco dos réus, prestes a ter seu caso revelado.
Após essa parte inicial do julgamento, a leitura fica um pouco cansativa, por que a vida de Yvonne é imensamente cansativa e até conhecer "você", ela vivia em uma rotina extremamente chata. Casada há anos, com dois filhos já adultos que moram em outras cidades, Yvonne se dedicava ao trabalho e ao casamento. Casamento esse onde já não havia sexo e onde seu marido inserira uma amante. Mas ambos assumiam que se amavam, independente de qualquer coisa. Assim dizia Yvonne.

Ao conhecer "você", Yvonne passa a viver mais aventuras, aventuras sexuais em lugares inusitados. Em todo o tempo ela pensa em "você", deseja estar com "você", escreve cartas a "você", que nunca poderão ser enviadas, pois "você" também é casado e esse caso precisa ser mantido em segredo. "Você" compra celulares pré-pagos que servirão apenas para manterem contato. Vocês se encontram sempre em lugares diferentes para que não haja margem para desconfianças. Vocês fazem tudo "certinho", até que o crime acontece e suas vidas vão sendo completamente arrasadas.
"Você" só é verdadeiramente revelado durante o julgamento. Não sabemos seu nome, nem Yvonne sabe seu nome ou profissão. Muito pouco é desvendado, até que tudo seja revelado enquanto a acusação vai sendo feita. Tudo que ela acreditava a seu respeito vai se mostrando uma mentira, histórias que não foram realmente contadas, mas levadas a serem entendidas de maneira equivocada.  Yvonne percebe que se entregou a alguém que não conhecia. Se arrependeu, mas já era tarde demais.

"E depois do drama imaginário que tornou nossas vidas cotidianas suportáveis, tivemos um verdadeiro drama, um drama maior do que éramos capazes de gerenciar, e então quisemos nossas vidas cotidianas de volta, mas elas não existiam mais. Descobrimos que a proteção e a segurança são bens que você pode vender em troca de emoção, mas nunca pode comprá-los de volta" (DOUGHTY. 2014. p. 439-440).

Apesar de, em alguns momentos, ter uma narrativa cansativa e trazer alguns momentos do passado de Yvonne que considero desnecessários, o livro é muito bom e o final é surpreendente. Eu fiquei meio: "como assim, gente?!", "é isso mesmo produção?". Tive que voltar e ler a última página duas vezes, para crer que havia entendido certo. 

Ao ler, vale a pena refletir sobre o crime cometido (que obviamente não contarei aqui... matem a curiosidade lendo o livro inteirinho) que nos leva a perceber que, apesar de toda a evolução e de já estarmos no século XXI, as vozes das mulheres são caladas, abafadas. Seja para preservar sua imagem, seu casamento, sua família, se privar da vergonha, da humilhação ou até mesmo de ter tudo montado de forma que de vítima, passe a ser ré. Outro fato que é importante de ser ressaltado é o quanto criamos fantasias a respeito das outras pessoas e dos sentimentos delas em relação a nós. Buscamos enxergar apenas o que nos interessa e fazemos a nossa interpretação de tudo o que é dito ou feito, e ainda nos surpreendemos quando as coisas, as pessoas, não são como as desenhamos.

Se você espera grandes aventuras e muito suspense, essa não é a melhor escolha. O livro é tranquilo e traz fatos que podem acontecer na vida de qualquer um e que podem já ter acontecido na vida de inúmeras pessoas. Nele, é possível perceber o efeito e as consequências que podemos acarretar na vida dos outros e em como a vida é enxergada a partir de pontos de vista, de concepções e de desejos. "Uma escolha imperfeita" é merecedor de sua atenção.

Espero que gostem!
Até a próxima.

Beijos :-*


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